31/07/2009

Eterna Saudade

Capas Negras

A Académica não tem igual. "Mais do que um clube, a Académica é uma causa", disse Zeca Afonso. Disse como quem canta, que quem canta como ele cantava só podia cantar loas de justeza. Cantar Académica é, já foi mais ainda, cantar rebeldia, cantar companheirismo, cantar afecto. A Académica, nos tempos agrestes do fascismo, ajudou-nos a suportar, ajudou-nos a perceber. A Académica, por essa altura, ajudou-nos a lutar, ajudou-nos a fazer. A Académica era de Coimbra, é ainda, mas já era, é ainda, do País todo. Era e é ainda uma menção, uma divisa, uma legenda. A Académica tinha Bentes, Mário Wilson e Rocha. A Académica tinha Artur Jorge, Toni e Rui Rodrigues. Tinha Artur, Alhinho e Manuel António. Tinha Mário Campos, Vítor Campos e Gervásio. Tinha todos esses e tinha muitos mais. Tinha jogadores que se fizeram mais jogadores só porque eram jogadores da Académica. É que a Académica era uma escola. Ensinava futebol-pensante, futebol com sedução estética, futebol com serena harmonia. E ensinava a arrumar ideias, a derrubar receios, a projectar aventuras, a conquistar ledices. Na capital estudantina, há dias, as capas só podiam estar mais negras. Morreu o Vasco Gervásio. Há um pedacinho menos de Académica. Académica e Gervásio rimavam. Rimavam no primor. E também no amor.

João Malheiro
in Destak

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