18/09/2009

Arranca hoje o TEATRANDO III


A lenda viva do teatro nacional, Camila de Sousa Baker, espalhou creme, magia, charme, loucura, talento, mau hálito e algumas moedas pelos palcos desse país. Hoje em dia, está louca e parece inofensivamente à espera do juízo (final) na sua velha e decrépita mansão.
A sua velha e fiel criada, Dorothy, a sua irmã Virgínia Santos e o seu pequeno filho, Wolfgang, para além de se vestirem mal, são absurdamente misteriosos, mas coabitam em paz. Até ao dia em que uma visita inesperada os obriga a remexer uns nos outros, mas, também, num passado aparentemente enterrado no baú das memórias.

As revelações sucedem-se a um ritmo mais frenético do que as próprias personagens parecem conseguir aguentar, restando a terrível inspiração musical da peça para que queiramos mesmo ver Camila Baker enterrada e, já agora, a peça terminada.

Nós adoramos a mansão Baker porque nos identificamos com ela e com as personagens que por ali vagueiam. Embora pudéssemos dizer que Wolf representa a escuridão de quem acedeu pactuar com os podres da sociedade, refugiando-se numa confortável cegueira tranquilizante… embora fosse pertinente dizer que Dorothy é a encarnação da frustração amorosa e a representante simbólica das minorias silenciosas… embora pudesse haver margem para considerar Virgínia Santos a personificação da inveja e da mesquinhez de todos os que aspiram ao sucesso profissional, sacrificando valores e princípios por vis e simples recompensas materiais… embora achemos que há margem para considerar Jennifer uma justiceira anacrónica e intemporal, desumanizada e reguladora da ordem natural das coisas… embora nos tenham chamado a atenção para a potência simbólica de uma Camila Baker, que embarcou na viagem alucinante pelo efémero mundo do espectáculo, que conduz as suas presas à estereotipada decadência moral e física… não foi isso que nos moveu. Achámos a história suficientemente ridícula. E isso bastou.

A Camila Baker não deixou ninguém indiferente, embora nunca tenha feito uma cena nua. Talvez seja hoje. Nunca se sabe. Ninguém Sabe… nem nós.

Luís de Melo

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